quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Atendimento Telefônico

Continuando sobre os efeitos socio-econômicos da má educação, há também os efeitos psicológicos. Como por exemplo o impacto psicológico de se ouvir isto que me foi relatado. O sujeito ligou pra central de atendimento de uma telefônica e o seguinte diálogo ocorreu:

"
- O nome do Sr., por favor?
- José.
- E de qual cidade o Sr. está falando?
- Belo Horizonte.
- E qual estado vai estar sendo?
- ...
"

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

"Eu estudei a norma"

(Estou no Brasil)
Um amigo que trabalha na mina de Carajás me contou hoje um caso engraçado. Ele e o chefe - ambos engenheiros - estavam discutindo com o inspetor de segurança do trabalho os detalhes para uma solda no lastro de uma escavadeira gigante. Um funcionário deveria entrar no compartimento de lastro (uma imensa estrutura que garante um contrapeso para a pá da parte frontal da máquina) para realizar a solda. Para tanto, o inspetor afirmava ser necessário garantir a entrada de oxigênio no compartimento em que o homem trabalharia. A estrutura tinha o formato de um duto, isto é, com uma entrada e uma saída. Os engenheiros sugeriram então instalar um exaustor em uma das saídas do duto; assim, gerariam um fluxo de ar que sugaria os resíduos da soldagem e, ao mesmo tempo, garantiria a entrada de oxigênio.
O inspetor de segurança do trabalho, no entanto, insistiu que um ventilador também deveria ser instalado na entrada do duto, pois o exaustor apenas sugaria o ar do compartimento, faltando algo para mandar o ar para dentro. Os engenheiros então responderam que não era necessário, pois com o duto desimpedido entre uma ponta e outra, o exaustor instalado na saída seria suficiente para fazer com que ar chegasse ali pela entrada. O inspetor de segurança do trabalho retrucou que não, que o exaustor iria tirar o ar dali. Os engenheiros então perguntaram se ele achava que se produziria ali um vácuo, mesmo com a outra ponta aberta. Confuso com a pergunta, ele apenas insistiu na instalação do ventilador na entrada.
O engenheiro chefe então agarrou uma sacola de plástico e aspirou o ar de dentro com a boca, murchando o plástico. “Viu? Ficou sem ar dentro.” Em seguida, furou uma ponta da sacola e aspirou, continuando o plástico sem murchar. “Viu? Não fica sem ar dentro.”
O inspetor de segurança do trabalho então respondeu: “Isso é física. Vocês estudaram física, eu estudei a norma”. Pronto, mandou instalar o ventilador.
Uma coisa que eu sempre reflito é sobre como são generalizados os efeitos sociais e econômicos da falta de educação de qualidade. A culpa não é do coitado do inspetor, mas do curso por correspondência em segurança do trabalho que ele fez.
Homer J. Simpson, inspetor de segurança da usina nuclear de Springfield
George W. Bush, ex-presidente dos Estados Unidos

sábado, 18 de dezembro de 2010

A boa arte pagã pra aguçar o espírito natalino


O guardador de rebanhos - VIII

Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)


(...)


Num meio dia de fim de primavera
Tive um sonho como uma fotografia
Vi Jesus Cristo descer à terra,
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.


Tinha fugido do céu,
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras,
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem


E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas -
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque não era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.


Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!


Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três,
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz


E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz no braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras nos burros,
Rouba as frutas dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.


A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as cousas,
Aponta-me todas as cousas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.


Diz-me muito mal de Deus,
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar no chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia,
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.


Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou -
"Se é que as criou, do que duvido" -
"Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
mas os seres não cantam nada,
se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres".
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.


(...)


quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O Grande Jornal dos Mineiros

Enquanto o NYT, El País, Le Monde, Der Spiegel e The Guardian vão pingando os wikileaks, deu no Estado de Minas:

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Morro do Macaco Molhado, Madrid

Quem vem à Europa com a Soletur ou a CVC muito provavelmente levará uma imagem bastante distorcida do continente. Pior, quando volta e começa a fazer comparações enviesadas com o Brasil, cria uma imagem distorcida do próprio país. Quem imagina que Europa é só o Quartier Latin, o Picadilly Circus ou a Praça de São Marcos vai achar que o Brasil é outro planeta, esquecido por deus e sem futuro. Mas saindo das zonas mais turísticas, a realidade é bem diferente. "Istrudia" fiz um passeio a uma cidade perto de Barcelona (chama-se Vic) e identifiquei várias proto-favelas pelo caminho. Resolvi pesquisar mais sobre o assunto e encontrei as fotos abaixo, são favelas madrilenhas:










fonte: http://favelasdomundo.blogspot.com/

(A última é o prefeito e vice-prefeita de Madrid pedindo voto na favela - exatamente como fazem os nossos)

Não é que estou sugerindo uma equiparação entre Oslo e a Baixada Fluminense, ou Genebra e a COAB. Mas se vamos nos comparar com o velho continente, que seja em termos justos.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Começar a aprender

Eu estou dividindo um apartamento em Barcelona com dois amigos, um mexicano e o outro carioca. Os dois tocam guitarra muito bem. Resolvi aprender e agora tenho aulas diárias e gratuitas. Valeu, Alberto e Luís!

Mas pensar que vou começar já com quase 30 anos às vezes é desanimador. Comentei isto com outro amigo (guitarrista também, mas em Berlim) e ele me mandou o vídeo abaixo. Valeu, Beraba!