"No Itamaraty, para os diplomatas chefes de missão que morriam em posto, fora do Brasil, havia uma segunda cerimônia, com grande pompa, quando os despojos voltavam ao solo pátrio. Eram-lhe prestadas honras militares, equivalentes às que havia recebido antes, no país em que estava acreditado. Um embaixador, nesses casos, tinha o direito a duas mortes, lá e cá, como aquele boêmio baiano que Jorge Amado inventou e cujo berro ainda ecoa.
A glória póstuma era subtraída, em alguma medida, pela classificação que o corpo recebia para que, embalsamado, pudesse entrar no Brasil devidamente rotulado. Na nossa nomenclatura alfandegária, era chamado de “exemplar de história natural”, o que correspondia aos fatos, mas nada acrescentava à reputação."
(A morte sem os mortos, por Marcos de Azambuja, Revista Piauí http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-61/memorias-pouco-diplomaticas/a-morte-sem-os-mortos)