Enquanto me esforçava por não me concentrar no trabalho que fazia sobre o tema da modernidade na América Latina, distraí-me pensando no Abaporu da Tarsila do Amaral.
Reparei como o quadro é composto por diversos paradoxos. Li que Abaporu em Tupi significa "comedor de homem", no bom sentido é claro, ou seja, no sentido canibal. Entretanto, o Abaporu não tem boca (tenho uma forte impressão de que esta minha observação não seja nada original).
Mas para além deste mais óbvio, há outros paradoxos observáveis - e talvez estes sim mais originais. O Abaporu é um comedor, mas se encontra em uma paisagem desértica, evocada pelo sol forte e o cacto. O que haveria de comer ali? Se é canibal, quem poderia comer em um ambiente tão solitário?
O Abaporu também tem uma pose de pensador. A cabeça inclinada, apoiada sobre o braço esquerdo e a expressão meditativa no rosto de poucos traços transmitem a impressão de alguém com os pensamentos imersos em um mundo contemplativo. O Abaporu é um contemplador, mas são seus braços e pernas que são agigantados, enquanto a cabeça é minúscula.
O Abaporu é também o quadro mais recordado, admirado e valioso do Brasil. Mas ele está exposto - paradoxalmente exposto - em Buenos Aires. Foi comprado em 1995 pelo argentino Eduardo Constantini, fundador do Museu de Arte Latinoamericana de Buenos Aires.
Quando morei na Argentina em 2006, visitei o Abaporu algumas vezes, ele lá solitário, refletindo sabe-se lá sobre quais paradoxos.
bela reflexão!
ResponderExcluiradoro esse quadro, fiz uma "paródia" dele na 6a série: era o Abaporu de havaiana e bikini tomando um bronze!
Queria muito ver esta paródia sua...
ResponderExcluirQue texto legal! Te felicito! =)
ResponderExcluirObrigado, Pamela! E sucesso com seu blog!
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