quinta-feira, 12 de maio de 2011

Paradoxos Modernos

Enquanto me esforçava por não me concentrar no trabalho que fazia sobre o tema da modernidade na América Latina, distraí-me pensando no Abaporu da Tarsila do Amaral.


Reparei como o quadro é composto por diversos paradoxos. Li que Abaporu em Tupi significa "comedor de homem", no bom sentido é claro, ou seja, no sentido canibal. Entretanto, o Abaporu não tem boca (tenho uma forte impressão de que esta minha observação não seja nada original).

Mas para além deste mais óbvio, há outros paradoxos observáveis - e talvez estes sim mais originais. O Abaporu é um comedor, mas se encontra em uma paisagem desértica, evocada pelo sol forte e o cacto. O que haveria de comer ali? Se é canibal, quem poderia comer em um ambiente tão solitário?

O Abaporu também tem uma pose de pensador. A cabeça inclinada, apoiada sobre o braço esquerdo e a expressão meditativa no rosto de poucos traços transmitem a impressão de alguém com os pensamentos imersos em um mundo contemplativo. O Abaporu é um contemplador, mas são seus braços e pernas que são agigantados, enquanto a cabeça é minúscula.

O Abaporu é também o quadro mais recordado, admirado e valioso do Brasil. Mas ele está exposto - paradoxalmente exposto - em Buenos Aires. Foi comprado em 1995 pelo argentino Eduardo Constantini, fundador do Museu de Arte Latinoamericana de Buenos Aires.

Quando morei na Argentina em 2006, visitei o Abaporu algumas vezes, ele lá solitário, refletindo sabe-se lá sobre quais paradoxos.

4 comentários:

  1. bela reflexão!
    adoro esse quadro, fiz uma "paródia" dele na 6a série: era o Abaporu de havaiana e bikini tomando um bronze!

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  2. Queria muito ver esta paródia sua...

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  3. Obrigado, Pamela! E sucesso com seu blog!

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