sexta-feira, 13 de abril de 2012

História Natural

"No Itamaraty, para os diplomatas chefes de missão que morriam em posto, fora do Brasil, havia uma segunda cerimônia, com grande pompa, quando os despojos voltavam ao solo pátrio. Eram-lhe prestadas honras militares, equivalentes às que havia recebido antes, no país em que estava acreditado. Um embaixador, nesses casos, tinha o direito a duas mortes, lá e cá, como aquele boêmio baiano que Jorge Amado inventou e cujo berro ainda ecoa. 

A glória póstuma era subtraída, em alguma medida, pela classificação que o corpo recebia para que, embalsamado, pudesse entrar no Brasil devidamente rotulado. Na nossa nomenclatura alfandegária, era chamado de “exemplar de história natural”, o que correspondia aos fatos, mas nada acrescentava à reputação."

(A morte sem os mortos, por Marcos de Azambuja, Revista Piauí http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-61/memorias-pouco-diplomaticas/a-morte-sem-os-mortos)

Nenhum comentário:

Postar um comentário