segunda-feira, 16 de julho de 2012

Desvarios coloniais

Vendo uma foto antiga que tirei de Ouro Preto, me lembrei de Lisboa. Lembrei também da Isabel Martins, da Yara Gutkin, do Kent Queener, do Carlos Barreiros, do Luís Guilherme Melo e escrevi este post:


O primeiro que vi de Lisboa quando a vi pela primeira vez foram suas telhas vermelhas. Desde aí me senti em casa. Quando aterrizado saí para conhecer suas ruas e comer seus bacalhaus (assim mesmo no plural), o que vi foi Ouro Preto. Lisboa, logo vi, era uma Ouro Preto metropolitana, tal qual. Estava tudo ali, só que em dimensões metropolitanas.

Os portugueses claro que dirão que me equivoquei no sentido: Ouro Preto é que é igual a Lisboa. Não sei. Ouro Preto é de 1711 (e antes Vila Rica de 1652), Lisboa se reconstruiu depois de 1755. Nesse momento a cidade do ouro estava no seu auge e rivalizava com a capital imperial não só em tamanho, mas também em criatividade e produção artística. Não era só o ouro que atravessava o Atlântico, também a arte colonial ancorava no Tejo. Algo mulato chegou ao traçado pombalino.

De todos modos, Pombal não entendeu bem o que veio dizer o Terremoto e quis, com suas pretensões iluministas, meter-lhe retas castas a Lisboa. Pobre Pombal. Lisboa, como boa amante, resistiu e continuou despedindo-se do Tejo com seus abraços aconchegantes.

Que bom, a cidade não cedeu à lógica dos vizinhos, com seus tabuleiros de xadrez crescendo ao entorno de suas Plazas Reales, de Armas, de Toros... Que monotonia fazer de Lisboa uma Quito, Buenos Aires, ou Assunção. Lisboa nasceu com vocação para Ouro Preto (com esta já escuto um “foda-se” muito bem conjugado em português arcaico).

O semeador prevaleceu sobre o ladrilhador - como no fundo queria Sérgio Buarque – e Lisboa à revelia do iluminista preservou algum respeito à topografia. Feita ruínas, se reergueu no pragmatismo do déspota esclarecido, para ser aceita por Paris, Madri, Berlim, Viena e a credora Londres. Mas não entregou todos seus mistérios e sua beleza Manuelina – afinal, a estética é alicerce no tempo. A semeadura Manuelina ainda se constata em cada canto que falhou em ser canto, pois é, como cantou Sophia: “Não a nave romântica onde a regra / Da semente sobe da terra / Nem o fuste de espiga / Da coluna grega / Mas a flor dos acasos que a errância / Em sua deriva agrega”.

Meu avô, que nunca fez a travessia do Atlântico senão pela literatura, escreveu certa vez sobre outra cidade imperial. Comparou a capital da Pérfida Albion com a capital da Mantiqueira. Em seu poema, constatou que Ouro Fino era menor que Londres, mas que, em seus junhos frios, o fog tomava de tal conta a cidade que o big-benzinho da Matriz de São Francisco de Paula transparecia como uma lua de Alphonsus. Assim como em Ouro Fino, a neblina costuma cobrir Ouro Preto nas manhãs de junho. Em uma destas, um se perde em suas ruelas, chega à Praça e toma Tiradentes por Pombal.


O Mártir ou o Marquês?

8 comentários:

  1. Adorei Bruno e quero sua permição para mandar para a Gazeta de Ouro Fino.
    Um abraço : Ana Maria

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  2. Aliás, permiSSão! Ana.

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  3. Brauno,
    Vamos publicar este text
    o na Gazeta de Ouro Fino.Monta o texto com a foto que scaneei que mostra a garota e a Torre da Igreja. Vou mandar a foto para vc e vc monta o texto com esta foto e me manda.
    do pai

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    1. Eles devem ter um estagiário lá pra fazer a montagem. To ocupado demais estes dias. Por sinal, muito bonita a foto, me traz boas lembranças. Valeu, pai.

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  4. Brauno,
    Te mandei a foto com a garota e a torre da Igreja de Ouro Fino para vc montar o texto com esta foto e me mandar para publicar na Gazeta de Ouro fino. aproveita e manda um mini curriculo seu.

    do pai

    Igreja Sao Francisco de Paula

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  5. Foto muito bela...
    Imaculada Vale

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