sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

"O fedor de Westminster continua"

No ano passado, uma coincidência interessante aconteceu. Apenas um mês após o escândalo das passagens aéreas no Congresso Nacional, os parlamentares da Câmara dos Comuns, aqui no Reino Unido, também foram flagrados pela imprensa local abusando das verbas indenizatórias. Teve parlamentar que foi indenizado em £2,250 (aprox. R$ 6.750) por um banquinho de sala de estar (que deve ter sido comprado na mesma loja em que o reitor da UNB adquire latas de lixo). Teve outro que recebeu uma indenização de £5,000 (R$ 15.000) por despesas com limpeza. Ele é conhecido agora como “Mr Clean”. Enfim, são vários os casos pois mais da metade dos 646 MPs (Members of Parliament, como são chamados aqui) foram flagrados na lambança. Quase igual ao caso brasileiro. Quase...

Mais importante que perceber as semelhanças entre o tipo de gente que se infiltra nos dois parlamentos é refletir sobre as diferenças nas reações das duas sociedades. Um mês após a revelação dos gastos pela imprensa, o equivalente local ao Presidente da Câmara (Speaker of the House of Commons ) caiu. Caiu e deixou a vida pública - é importante dizer. Os 364 MPs envolvidos no escândalo foram obrigados a devolver um total de £1,120,000 (R$ 3.360.000). Teve parlamentar que pagou mais do que foi cobrado, impondo-se multas voluntárias. Foi criada uma comissão independente para fiscalizar permanentemente todos os gastos de Westminster (tanto a Câmara dos Comuns como a dos Lordes). Esta comissão não só deverá fiscalizar, mas deverá estabelecer os valores dos salários e demais penduricalhos dos parlamentares. Ou seja, o probleminha óbvio de se votar em benefício próprio foi aqui tratado com seriedade. Hoje, o jornal The Times publicou que a Promotoria da Coroa deve anunciar a acusação criminal contra vários MPs, baseada em investigação da Scotland Yard sobre o caso. E, por fim, a expectativa é que na próxima eleição haverá a maior renovação de representantes na história desse parlamento (o mais antigo do mundo). Pois é, aqui o presidente da Casa caiu e se recolheu humilhado da vida pública, o dinheiro furtado foi restituído, houve uma imediata reforma institucional (séria), a Justiça se moveu e está acusando criminalmente os pilantras e o que se espera é que o eleitorado vá fazer a sua parte. Quase igual ao Brasil!

E, com tudo isso, os ingleses não estão satisfeitos. No mesmo jornal de hoje um comentarista escreveu em sua coluna que “O fedor de Westminster continua”. Imagina o que esse sujeito não diria se sentisse a maré do Planalto Central...

Um comentário:

  1. Lembro de vc comentando essa história quando estava em York. É impressionante a nossa capacidade de aceitar essas barbaridades por aqui.
    prós

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