terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Virada Chinesa

Em 2004 fui estudar na Alemanha e, já naquela época, me impressionou o número de chineses na universidade. Agora, vivendo outra vez em um campus europeu, tenho a sensação que não apenas a quantidade de estudantes chineses aumentou exponencialmente, mas que uma mudança qualitativa ocorreu na presença deles por aqui.

O que eu observei nos chineses na Alemanha é que eram estudantes muito retraídos, pouco participativos nas aulas e pouco sociáveis com os locais e demais estrangeiros. Estas ainda são características comuns entre os chineses que vejo hoje aqui na Inglaterra; no entanto, essa discrição parece que está deixando de ser absoluta. Já não é tão raro ouvir comentários (muitas vezes polêmicos) de estudantes chineses nos seminários, ou vê-los interagindo com os colegas fora das aulas. Percebe-se facilmente como o aumento da riqueza e poder da China se reflete no comportamento de seus estudantes vivendo no exterior. Antes parecia que vinham apenas absorver de forma pragmática os benefícios da formação acadêmica na Europa e adotavam uma postura muito discreta, mesmo temerosa e submissa. Agora, continuam pragmáticos, mas parecem mais confiantes, orgulhosos de sua origem e cultura, e até mesmo se começa a notar em alguns, para além do pragmatismo, um certo prazer em desfrutar a experiência na Europa.

Eu tenho uma vizinha de Xangai no meu dormitório, por exemplo, que promove banquetes quase que diariamente. Juntam-se os amigos, preparam comidas tradicionais, comem de pauzinho, mas desperdiçam comida como legítimos ocidentais.

Outro caso muito interessante ilustra a maneira como esses chineses pensam e que agora começam a expressar. Aconteceu em um dos seminários semanais que tenho aqui no curso. Eu cheguei mais cedo e pude ouvir a discussão de uma colega filipina com uma chinesa sobre o trabalho em dupla que iriam apresentar sobre modelos de desenvolvimento. A filipina havia notado que a chinesa tinha suprimido um tópico da apresentação, “liderança”. Então questionou a colega pela falta, que respondeu: “eu tirei ‘liderança’ porque já havia outro tópico ‘burocracia’ e ‘liderança’ e ‘burocracia’ são praticamente a mesma coisa, praticamente sinônimos”. Certo ou errado, é o pensamento da nova hegemonia e, bem ou mal, com o qual o mundo vai ter que lidar.

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